Diagnóstico na primeira infância: ponto final ou ponto de partida?

Hoje, pontuaremos sobre o cuidado que nós, profissionais da área de psicologia, temos que ter quando depararmos com uma criança que, supostamente, se encontra aquém ou além do “esperado” para a idade.

Conforme os padrões definidos pelo Sistema Educacional. Ou seja, comportamentos considerados, ou não, adequados para uma criança. Afinal, o diagnóstico na primeira infância é um ponto final ou ponto de partida?

O diagnóstico na primeira infância de “atraso” escolar.

Primeiramente, podemos pensar que o modelo do que é normal ou patológico não se encontra, na maioria das vezes, numa base científica. Mas, atende a uma necessidade de levantar dados de análise que sugiram um diagnóstico à criança e ponha fim à angústia da família.

Se, por um lado, a família espera uma resposta clínica, a escola estará sempre se preparando para, juntos, traçarmos caminhos orientadores para auxiliar a criança e os pais.

Como psicóloga, já atuei no campo clínico e, atualmente, trabalho no educacional, o que me possibilita refletir sobre essas práticas. Quando dialogamos e buscamos profissionais especializados que atendem crianças, percebo o quanto a maioria deles tem tido muita cautela em levantar dados para um diagnóstico na primeira infância.

Trazem-nos apenas hipóteses diagnósticas que, mais tarde, poderão ser confirmadas ou não. Conversamos e avaliamos sobre o tempo de maturação de cada criança, sobre a importância dos estímulos e do respeito à infância.

O caminho é o incentivo.

Não podemos criar um modelo pronto de comportamento e de respostas cognitivas aos quais a criança teria que corresponder às nossas expectativas. Ao contrário, vamos estimular, dar voz, acreditar no potencial dela, dar oportunidade de ela criar, explorar e descobrir.

Professores e equipe da escola, junto aos profissionais externos e família, dialogam, desenvolvem estratégias e reelaboram ações que possibilitem o desenvolvimento global do aluno.

O risco do diagnóstico precoce é individualizar as questões da criança sem considerar o histórico, o contexto social no qual ela está inserida. Além de outros pontos importantes como a relação com a família, escola e demais relações sociais. Questões essas, que vão além das genéticas, aprendidas e/ou reproduzidas.

O diagnóstico precoce não é importante?

Sim, mas no momento certo, após serem descartadas todas as hipóteses e esgotadas todas as possibilidades de atuação da família e de profissionais. Inclusive, considero que alguns sintomas, quando diagnosticados desde cedo, contribuem para um tratamento preventivo e eficaz.

Por fim, o que enfatizo é que o diagnóstico não deve ser feito para dar uma resposta aos adultos. Mas, para servir de parâmetro de atuação em prol da criança. O diagnóstico não deverá ser utilizado como um rótulo ou um estigma. A criança não é o transtorno ou a patologia. Isso é apenas uma parte da vida dela.

Concluo na perspectiva de que o diagnóstico não é o ponto final, mas o ponto de partida para uma ação possível de respeito à subjetividade da criança.

Imaculada Braga
Psicóloga Escolar

Escola Bilboquê Buritis