Antes de compartilhar a minha história, homenageio todas as mulheres que exercem o maternar como mães, cuidadoras, tutoras e educadoras. A todas que se dedicam com amor e afeto por outra ou, no plural, outras vidas. Às que alimentam, resguardam o bem estar, torcem pela alegria, clamam por proteção e rechaçam o coração com sentimentos que, muitas vezes, excedem o nosso próprio entendimento. Meu nome é Alessandra Saraiva, sou coordenadora pedagógica da Escola Bilboquê Gutierrez e, hoje, venho compartilhar como aconteceu a minha maternidade adotiva.
Sempre projetei a maternidade como um acontecimento planejado e fruto de uma boa relação conjugal. Ao contrário de muitas amigas que já diziam: “Meu sonho é ter filhos, ser mãe!”, para mim, o sonho era apenas uma consequência natural. Aos 37 anos, portanto, junto com o meu casamento, a difícil constatação: o planejamento de ter filhos não poderia demorar.
Aos 38, a gravidez não bateu à porta. Aos 39, buscamos orientação médica para verificar o motivo, mesmo cientes de que a idade já poderia ser um impeditivo. Aos 40, a angústia já apertava o coração e, sem uma resposta que justificasse a não gravidez, recorremos à medicina reprodutiva.
À princípio, duas inseminações sem sucesso. Um mês depois, a gravidez natural foi acompanhada de emoção, comemoração e, claro, muitas expectativas. Após um período de três meses, no entanto, a notícia da interrupção. E, para me mostrar que a jornada não seria nada fácil, mais duas gestações sem sucesso.
Apesar da dor, a frustração se converteu em forças para seguir em frente. Mediante aos obstáculos, as negativas e os desafios nos fizeram considerar novas escolhas. E ainda bem que existem as possibilidades! A minha, ou melhor, a nossa, frente ao desejo de sermos pais, foi a adoção.
A adoção
Adotar uma criança é um processo que envolve decisão, entendimento sobre a burocracia e, principalmente, consciência sobre o tempo de espera. A maternidade adotiva é uma narrativa longa e é impossível verbalizar os sentimentos que se misturam na espera por um filho. Nesta gestação prolongada, foram 2 anos e meio para receber a grande notícia.
Acordei certo dia, seguindo a rotina de trabalho e organização de casa, quando o telefone tocou. Após confirmar alguns dados, o outro lado da linha disse: “Parabéns, o seu filho chegou e o nome dele é Mateus”. Por alguns segundos, paralisada e procurando absorver, um único sentimento me invadia: o da mudança de vida!
Hoje, aos 6 anos e 2 meses, Mateus está numa fase de muitas perguntas e nos desafia quando não é atendido conforme suas vontades. Meu filho é fruto de uma maternidade que foi gerada no coração e, etimologicamente, o seu nome significa “Presente de Deus”. Não temos mesmo nenhuma dúvida de que sua chegada seja um presente divino. E o mais importante: Mateus também sabe disso.
Alessandra Saraiva
Coordenadora Pedagógica
Escola Bilboquê Gutierrez