Muito se discute hoje sobre a maneira certa de educar uma criança para que ela seja uma cidadã ética, autônoma e criativa. Vivemos em um tempo em que a educação acontecia de forma vertical, em que o adulto se apresentava como o detentor do conhecimento e as crianças eram vistas como folhas em branco. Aprenda agora como funciona o desenvolvimento da moralidade infantil e como auxiliar o seu desenvolvimento.
Desenvolvimento da Moralidade Infantil
Atualmente, sabemos que o excesso de autoridade na educação prejudica a formação de indivíduos. Mas como podemos conduzir o desenvolvimento da moralidade infantil de forma saudável e assertiva?
A grande dificuldade está justamente em achar o equilíbrio e, principalmente, em entender o limite das intervenções e das mediações feitas com as crianças. Os professores e os pais, por muitas vezes, se veem sem saber como agir diante de um “mau comportamento”. Por vezes, são permissivos demais e, em algumas situações, acabam sendo muito autoritários.
Como a moralidade infantil é construída?
Para falarmos sobre desenvolvimento da moralidade infantil, precisamos primeiro entender que isso se refere ao desenvolvimento de crenças, valores e sobre a noção do que é certo e o que é errado.
O mais importante não são os valores pessoais em si, mas, sim, porque seguimos esses valores. Para Piaget, ser ético é AGIR eticamente, ou seja, não é sobre o que falamos, mas sobre o que fazemos.
Para o autor, temos estágios de desenvolvimento da moralidade, sendo eles:
- Anomia — ausência de regras;
- Heteronomia — seguir a regra que o outro, dita;
- Autonomia — seguir minhas próprias regras.
Pensando nesses conceitos, sabemos que muitos adultos ainda se encontram na heteronomia, seguindo regras de acordo com o externo porque serão punidos ou recompensados. Um adulto autônomo decide internamente pelo caminho certo porque sabe que é o melhor para todos e para uma vida em sociedade.
Como desenvolver a autonomia infantil?
Então, como contribuir para que as crianças possam desenvolver essa autonomia e, consequentemente, sua moralidade infantil? Como fazer do ambiente escolar um lugar propício para isso acontecer?
Primeiramente, precisamos entender que a moralidade não pode ser ensinada através de sermões e punições. A moralidade deve ser ensinada a partir das experiências diárias que a criança tem ao se relacionar com o outro. No ambiente escolar, o tempo todo, temos a oportunidade de trabalhar regras. Para refletirmos sobre isso, entendamos algumas questões importantes sobre regras:
- Regra não é só o que não podemos fazer, mas o que devemos fazer.
- Regras devem surgir de problemas reais, do dia a dia.
- Regras devem ser objetivas, simples e claras.
Quando colocamos uma regra para a criança, ela precisa entender que essa regra deve ser seguida para o bem-estar do grupo e não apenas porque vem de uma ordem dada pelo adulto. Vejam as colocações a seguir:
Qual das frases acima você considera mais adequada? Nas duas citações, temos uma regra sendo colocada, a diferença está justamente na maneira de como fazer isso.
Outro ponto crucial é como nos colocamos diante das situações-problema que aparecem no cotidiano. É normal e natural que crianças tenham conflitos nos momentos de interações. Não é adequado evitar esses conflitos, mas sim fazer uma possibilidade desse momento. Vamos pensar em duas crianças brigando por um brinquedo em sala de aula.
Se chegamos até as crianças e apresentamos a solução sem nenhuma possibilidade de reflexão, estamos ensinando que um adulto resolve sempre o problema. O ideal é convidarmos a criança a pensar junto em como podemos resolver aquele conflito.
Ambiente autoritário x ambiente democrático
Um ambiente autoritário não é somente sobre como as regras são colocadas. Para Telma Vinha, “autoritário é o que o adulto faz pela criança que ela pode fazer por si mesma”. Desde a educação infantil, precisamos favorecer que as crianças tomem pequenas decisões e que assumam determinadas responsabilidades.
É claro que ela não pode tomar todas as decisões, mas devemos ponderar e permitir em que é possível fazer escolhas. Por exemplo: uma criança não pode decidir se vai colocar blusa de frio no inverno, mas ela pode claramente decidir qual blusa ela quer colocar. É assim que começamos.
Educar para a autonomia é um treino constante, por isso se faz tão importante uma autorreflexão dos adultos envolvidos nessa missão.
Para possibilitar o desenvolvimento da moralidade infantil, precisamos ter clareza da forma que fomos educados e de como isso nos afeta até a vida adulta. Só assim deixaremos de reproduzir atitudes que não são saudáveis para a criança e poderemos possibilitar o desenvolvimento da moralidade de forma significativa.
Larissa Assis
Psicóloga escolar
Escola Bilboquê Vila da Serra