Os Jogos Olímpicos são considerados um dos rituais seculares mais importantes da modernidade. Do espectro do megaevento, a cada quatro anos, gerações inteiras são marcadas pelas mensagens nacionalistas e seus discursos de paz. Mas, não é só um grande evento, é um momento educacional. Aprendemos com as olimpíadas. Afinal, que criança nunca foi impactada pelas cerimônias, disputas e premiações, atribuindo aos atletas a condição de verdadeiros heróis?
A importância das Olimpíadas.
No meu caso, particularmente, foi assim. A primeira Olimpíada que presenciei — pela televisão, é claro — foi a de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996. Não que eu pudesse memorizar alguma conquista histórica daquele ano. Afinal de contas, com dois anos a gente não se lembra de muita coisa, não é mesmo?!
Passaram-se os anos e, assim como a Copa do Mundo de 98, os Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, já me parecem memórias mais tangíveis. Logo depois, vieram os Jogos de Atenas, Pequim, Londres e, claro, as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Todas carregando consigo vitórias e derrotas marcantes, mas nenhuma tão emocionante quanto as histórias de superação.
Como esquecer, por exemplo, a glória e o terror vividos pelo maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima? Em 2004, o brasileiro liderava sua prova, quando sofreu uma interferência externa de um manifestante irlandês. Mesmo abalado, o atleta persistiu e subiu ao pódio, garantindo o bronze junto à bandeira do Brasil.
Aprendemos com as Olimpíadas e seus heróis.
Já no Rio, em 2016, a norte-americana Abbey D’Agostino e a neozelandesa Nikki Hamblin protagonizaram um grande exemplo de espírito esportivo. Na prova eliminatória dos 5.000 metros do atletismo, as duas competidoras estavam no pelotão da frente, mas caíram ao tropeçar em suas próprias pernas. No episódio, D’Agostino rompeu os ligamentos do joelho e só conseguiu se levantar graças ao auxílio de Nikki que, ao invés de galgar a medalha de ouro, acabou desistindo da prova para ajudá-la.
O que aprendemos com as Olimpíadas.
E o que aprendemos com as Olimpíadas? A verdade é que uma competição, por si só, contribui para o desenvolvimento e a consolidação de relações individualistas, mas cabe às instituições sociais introduzirem a lição mais importante do esporte: as relações de aprendizagem.
Não há nada de errado em estabelecer uma autoconsciência sobre si. Ser competitivo, ou individualista, pode desenvolver capacidades como o esforço, empenho e dedicação. Além de ser uma característica que anda lado a lado com uma destacada autoestima. Mas o individual não existe sem o coletivo. Assim como os conceitos “inclusão e exclusão”, “derrota e vitória”, “decepção e exaltação” não andam sozinhos. Eles transcendem o campo de jogo e mais: são complementares.
O Esporte e a Educação
Por isso, na escola, as competições internas são tão importantes. Elas conciliam o processo de associação coletiva à formação da personalidade.
A criança que pratica esportes reconhece as suas habilidades, desenvolve sua consciência corporal, mas pode, principalmente, entender o seu papel social. Socializar exige a consciência de si tanto quanto exige a consciência do outro. Não se trata de ganhar ou perder. Do espectro olímpico, formar bons competidores é o que garante futuros heróis.
Maria Clara Lauar
Assessora de Comunicação
Escola Bilboquê