Percebemos que muitos comportamentos atuais, agressivos ou de tristeza, são reflexos da pandemia. Podemos pensar sobre eles e agir preventivamente. Para elucidar melhor o tema, falaremos primeiramente sobre emoções e sentimentos. São a mesma coisa? Como são expressos? Como podemos reconhecê-los? O que fazer com eles?
Conforme escreveu o pai da Psicanálise, Freüd, em várias obras, “as emoções não expressas nunca morrem (…)”. Nessa frase, fica implícita a importância de ficarmos atentos aos sinais evidenciados pelo nosso corpo. Culturalmente, fomos educados para controlarmos as nossas emoções. Mas de onde e por que elas surgem? Porque somos seres humanos à procura de equilíbrio e precisamos de pensamento reflexivo para melhorar e compreender nossas emoções. A nossa tendência é repetir as expressões de sentimentos, tornando-os um ciclo interminável de expressão e repressão.
Emoções e sentimentos
Denominamos emoções “não positivas” aquelas que são consideradas negativas pela sociedade, mas que existem e precisam ser ressignificadas. São as que despertam em nós sentimentos como mágoa, tristeza, medo, raiva, incompreensão e injustiça. Ignorar nossas emoções traz um adoecimento geral demonstrado pelo estresse e pela interferência nos relacionamentos. Falar sobre nossos sentimentos traz um efeito benéfico na medida em que nos sentimos acolhidos e compreendidos.
Mas, afinal, sentimentos e emoções são a mesma coisa? A resposta seria sim, porém há uma diferenciação. Podemos dizer que os sentimentos são mais ocultos, internos, apenas a própria pessoa percebe, e as emoções são visíveis aos outros. Exemplificando: a tristeza pode ser demonstrada pelo choro ou pela apatia; a alegria, pela gargalhada ou por pulos; a vergonha, pelo rubor da face; a raiva, pelos punhos fechados, sudorese ou agressão física; o medo, pelo tremor ou por fuga. Ou seja, o sentimento acontece nos “bastidores” e as emoções, no “palco”. Os sentimentos são mais duradouros e as emoções mais passageiras. Podemos, por exemplo, ter o sentimento de raiva por alguém, reagir corporalmente por meio da emoção e, em seguida, apresentar um novo sentimento.
Os reflexos da Pandemia
Se, por um lado, enfrentamos os reflexos da pandemia causada pelo Corona Vírus, por outro, nos vimos diante do pandêmico caos emocional em que se encontra o ser humano. Vários sentimentos são reprimidos diante de situações vividas durante o último ano, como a perda de entes queridos, a perda do emprego, alunos sem escola, divergências políticas e notícias que nos impactam emocionalmente.
Pouco se fala sobre a vida e a saúde, assuntos tão necessários para o nosso bem-estar e garantia de sobrevivência psíquica. O resultado desses sentimentos reprimidos são as emoções, agora mais do que nunca, escancaradas em atitudes e comportamentos inesperados e sem controle. Os sintomas de ansiedade e de depressão são reflexos do cenário atual e do consequente agravamento de questões emocionais pré-existentes. É importante considerarmos este último ponto, porque a forma como cada um lida com as situações tem a ver com a sua história de vida e com a sua situação socioemocional.
A pandemia vai passar e é bom estarmos atentos aos nossos sentimentos. Neste momento, devemos dar espaço para o outro falar de si. Colocar-se ao lado do outro, cooperar, compartilhar, fazer algo de que gostamos, mesmo que seja em casa. Ler um livro, ouvir uma música, cozinhar e brincar com os filhos, por exemplo, são aspectos positivos que o distanciamento nos trouxe. A terapia é um espaço em que as pessoas podem se expressar e elaborar seus sentimentos.
Essa reflexão nos leva a desejar maior atuação das políticas públicas voltadas para a saúde mental da população. Precisamos aprender a lidar com nossas emoções. Que sejam acolhidas e compreendidas. Saúde mental é o mínimo que o ser humano merece.
Imaculada C. Braga Campos
Psicóloga Escolar
Escola Bilboquê Buritis