Quem não deseja proteger as crianças, especialmente nossos filhos e alunos? Mas há temas que fazem parte da vida, por mais difíceis que sejam. A morte na infância, embora dolorosa de imaginar, é uma dessas realidades que, vez ou outra, somos obrigados a encarar.
Quando pensamos em infância, lembramos de magia, alegria, entusiasmo. Gritos, cantorias, correria, abraços. Quase nunca associamos esse universo à tristeza. E, muitas vezes, acreditamos que, se a criança está sorrindo, está tudo bem.
Como iniciar uma conversa sobre morte na infância:
Mas como começar uma conversa quando o barco afunda? Ou seja, quando uma criança perde o pai, a mãe, um irmão, irmã ou os avós? A morte pode acontecer por doenças, acidentes e, em alguns casos, até no nascimento.
São situações vividas em muitas famílias. E quase sempre encontramos dificuldade em abordar o tema — especialmente com crianças. No entanto, esse assunto também faz parte da formação emocional e humana. E nada melhor do que contar com a escola, com professores preparados e educadores envolvidos, para nos apoiar nesse processo.
Vamos refletir: qual criança nunca viu a morte de uma planta? Ou a perda de um animal de estimação? Já viu um bichinho de jardim morrer? Ou quem sabe já matou uma barata? É por meio dessas vivências simples que podemos abrir caminhos para o entendimento. O concreto ajuda a criança a compreender o abstrato.
Essas experiências podem ser um ponto de partida para conversar. Mostrar, com sensibilidade, que a morte faz parte da vida. Somos finitos, mas quase nunca falamos sobre isso quando o tema não está diretamente relacionado à morte.
O papel do adulto: escutar, acolher e orientar
Durante essas conversas, o adulto pode fazer perguntas, ouvir e expor a situação com clareza. Não é necessário aprofundar, mas é importante ser verdadeiro. Ouvir o que a criança tem a dizer permite que o diálogo aconteça com mais naturalidade. Falar sobre o assunto não elimina a dor, mas ajuda a expressar o que se sente. É essencial ter escuta atenta e olhar sensível. Acolher, abraçar, validar emoções e reações ajuda a criança a se sentir segura.
Na escola, é fundamental preparar o grupo de colegas e promover rodas de conversa. O diálogo transforma. Muitas vezes, crianças e jovens reagem com mais naturalidade que os adultos — embora existam exceções. É comum surgirem fantasias: afinal, estão em processo de crescimento e aprendizado. Expressam o que escutam, o que veem em filmes, o que vivem.
Morte na infância: sinais e comportamentos do luto infantil
“Virou estrelinha”, “foi viajar”, “foi para o céu” — essas frases fazem parte do simbolismo infantil. Mas atenção: evite mascarar a realidade. Fale com honestidade, respeitando a cultura e as crenças da sua família. No processo de luto, é preciso redobrar a atenção. Mudanças de comportamento podem surgir, como:
- Sono interrompido
- Dores no corpo
- Insegurança
- Choro frequente
- Agitação ou inquietação
A criança e o tempo da compreensão
À medida que a criança amadurece cognitivamente, ela compreende melhor a morte. O luto infantil também passa por fases: negação, raiva, negociação, tristeza e aceitação.
Crianças com até cinco anos têm dificuldade de entender o conceito da morte. Muitas acreditam que a pessoa pode voltar. Depois dos cinco anos, começam a entender, mas o tema ainda é confuso e, muitas vezes, ameaçador. O que ajuda são as conversas, os livros, os filmes e a vivência.
Algumas dicas para lidar com o tema:
- Seja sincero(a)
- Antes de responder, pergunte o que a criança já pensa
- Mantenha a rotina o máximo possível
- Valorize os sentimentos
- Dê tempo ao luto
- Quando for possível, estimule boas lembranças
À medida que a criança cresce, sua capacidade de compreensão também aumenta.
E lembre-se: procurar apoio é uma forma de cuidado. A escola está sempre aberta para acolher a família. Um momento como esse também pode ser uma oportunidade para refletir sobre a vida — porque, no fim das contas, não há morte sem vida.
Sugestões de livros para crianças:
- Cristiane Assumpção – O Luto da Criança (Matrix)
- Larissa Aguiar Artera, Nilton Cesar Junior e Camila Volpato Broering – A Família Pinguim
- Lucília Elizabeth Paiva – A Arte de Falar da Morte para Crianças (Ideias & Letras)
- Todd Parr – O Livro do Adeus (Panda Books)
Sugestão de leitura para pais:
Maria Claret Lamounier Elias
Diretora Pedagógica e Fundadora das Escolas Bilboquê