Não consigo frustrar meu filho: um diálogo com famílias superprotetoras

A escola de Educação Infantil é o espaço onde os pais frequentemente pedem ajuda e suporte. Muitas vezes, as próprias famílias se identificam com ações relacionadas à superproteção. Isso acontece ao relatarem a dificuldade que sentem em frustrar os filhos em seus desejos, vontades e caprichos. Mas como lidamos com as famílias superprotetoras?

Famílias superprotetoras

Observo pais que se esforçam para serem assertivos na educação dos filhos. Afinal, qual de nós deseja falhar nessa missão tão nobre e, ao mesmo tempo, tão desafiadora que é educar?

Entretanto, falhamos porque, repetidas vezes, nossa ação não condiz com a forma com que desejamos criar nossos filhos. Por isso, uma dica valiosa é: sempre relacione a ação do adulto com a atitude da criança.

Comportamentos tóxicos

Exemplo: Quando a criança não quer comer toda a comida do prato, a família diz que ela está de castigo e não vai ver o seu desenho animado favorito.

Observem: não comer toda a comida do prato não tem relação alguma com o desenho favorito. Dessa forma, a criança não é capaz de atribuir sentido às ações dos adultos.

Ao invés de oferecer uma lista de substituições, como: biscoito, leite e iogurte, opte por dizer: “Filho(a), se você não comer a comida do almoço, vamos guardá-la na geladeira até o momento em que você sentir fome novamente”. Assim, estamos relacionando as ações para que as crianças consigam assimilar aquele contexto.

As famílias superprotetoras no ambiente escolar

Cientes de que o ambiente sociomoral da escola também auxilia a família em suas demandas diárias com formações, escola de pais e tutorias, ao receber pais superprotetores no ambiente escolar, o melhor caminho é a acolhida.

Na escola Bilboquê, temos um processo que denominamos de “Tutoria”. Em resumo, as tutorias são atendimentos individualizados com a família, a professora regente, a coordenadora pedagógica ou a psicóloga escolar. Em uma relação dialógica, ouvimos e orientamos as famílias nas suas demandas específicas.

Sendo assim, as orientações mais frequentes são:

  • Pais são humanos, logo, errar faz parte do processo educacional. Aprendemos com as nossas falhas e fazemos uma nova rota. O excesso de exigência angustia os pais e muitas vezes o fazem recuar ao invés de progredir no processo educativo;
  • Permitam que as crianças façam o que já são capazes de fazer sozinhas;
  • Evitem usar palavras incorretas para nomear objetos. A infância não precisa ser “infantilizada” na linguagem oral. Exemplos frequentes dessa prática são: falar “dedeira”, ao invés de mamadeira, ou “bubu”, ao invés de bico.
  • Por último, não tenha medo de que seu(sua) filho(a) deixe de amá-lo porque você está o(a) educando.

Quais são as características de pais superprotetores?

Sem dúvida, o maior questionamento dessa nova geração de pais: “Sou uma mãe superprotetora?”, “Sou um pai superprotetor?”. Por isso, listei as 5 características mais comuns em famílias superprotetoras:

  • Ser permissivo e permitir que os filhos façam o que desejam;
  • Cuidado e zelo em excesso, evitando que a criança tenha vivências importantes, com medo de se machucar;
  • Executar as tarefas das crianças, protegendo-as de qualquer risco, frustração ou responsabilidade;
  • Controle excessivo sobre os filhos;
  • Dificuldade em ser autoridade, sem exercer o autoritarismo.

E quais as consequências da superproteção familiar?

Por fim, a superproteção familiar é prejudicial para o desenvolvimento da criança. Afinal, contribui com a formação de indivíduos inseguros, dependentes emocionalmente e com uma baixa autoestima. Além disso, segundo a psicóloga educacional, Roseli Sayão, a  superproteção “desconecta a criança da realidade”.

Por isso, a parceria da escola com as famílias é muito importante neste momento. Com uma relação bem consolidada e aberta, os profissionais capacitados conseguirão fazer todos os aportes e direcionamentos necessários. Desse modo, lembre-se: a comunidade escolar está aqui para lhe ajudar.

Renata Viana
Coordenadora Pedagógica
Escola Bilboquê Vila da Serra

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
VINHATelma Pileggi. A linguagem do educador. In: O educador e a moralidade infantil: uma visão construtivista. Campinas: Mercado de Letras.